O desgosto dos investidores com a gestão de Graça Foster na Petrobras pode ser medido em números. O mais significativo é a perda de valor de mercado da maior companhia brasileira. Quando Graça assumiu, em 13 de fevereiro de 2012, a empresa valia R$ 329,9 bilhões. No pregão desta terça-feira 3, após disparar 15% com a notícia de sua renúncia, a Petrobras estava cotada em R$ 128,9 bilhões. Trata-se de uma queda de R$ 201 bilhões sob o comando da velha amiga de Dilma Rousseff e funcionária de carreira da estatal.
Ao substituir José Sérgio Gabrielli, que comandou a Petrobras nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, Graça era vista como uma gestora dura, elogiada pelo seu perfil técnico e pela sua competência. No balanço de 2012, por exemplo, ela surpreendeu positivamente o mercado, ao reconhecer perdas de R$ 7 bilhões na exploração de poços secos. Os projetos foram desenvolvidos na gestão de Gabrielli e corroeram 36% do lucro da estatal, naquele ano. Elogiada pelo mercado por sua transparência, a medida, porém, causou protestos de políticos ligados ao ex-presidente da Petrobras.
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Uma conjunção infernal, no entanto, abateu Graça. O mais grave foi o esquema de corrupção revelado pela Polícia Federal, durante a Operação Lava Jato. Diretores e funcionários da estatal, além de construtoras envolvidas em projetos e políticos, desviaram recursos da companhia para aumentar o próprio patrimônio e para bancar campanhas políticas, segundo as denúncias do Ministério Público Federal. Um dos principais delatores do escândalo é o ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. Ao lado do doleiro Alberto Yousseff, Costa concordou em fazer um acordo de delação premiada, a fim de reduzir a pena a que estará sujeito.
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Sem aval
O escândalo foi agravado pela revelação de que o superfaturamento nos projetos pode ter alcançado R$ 88 bilhões, segundo estimativas preliminares dos auditores da Pricewaterhouse Coopers (PwC), junto com os técnicos da Petrobras. O número consta do balanço não auditado do terceiro trimestre, divulgado na última semana, após dois meses de atraso em relação ao prazo legal. A cifra surpreendeu o mercado, o governo e os procuradores. O Ministério Público, por exemplo, trabalha com uma cifra entre R$ 2 bilhões e R$ 4 bilhões. A estimativa também teria irritado a presidente Dilma Rousseff, para quem Graça foi inábil ao divulgá-la.
Outro ingrediente que contribuiu para o desprestígio de Graça foi o uso político da Petrobras para conter a inflação. Tendo, como presidente do conselho de administração, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, a companhia foi forçada a absorver a alta mundial do petróleo. Até hoje, a empresa é uma importadora líquida do produto, já que seu óleo pesado não é adequado às refinarias brasileiras, que operam com óleo leve. Com isso, a Petrobras precisa exportar seu petróleo e importar o de outro tipo, gastando em dólar.
O problema é que, durante os últimos anos, o preço do petróleo superou os US$ 100 por barril. A Petrobras pagava a conta, mas não repassava o aumento de preços para os combustíveis no País, a fim de não pressionar a inflação. Esse represamento de preços levou a companhia a perder caixa e elevar seu nível de endividamento. Muito criticada pelos investidores, a medida também pesou na perda de valor de mercado.
Espinhos
Outro ingrediente que contribuiu para o desprestígio de Graça foi o uso político da Petrobras para conter a inflação. Tendo, como presidente do conselho de administração, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, a companhia foi forçada a absorver a alta mundial do petróleo. Até hoje, a empresa é uma importadora líquida do produto, já que seu óleo pesado não é adequado às refinarias brasileiras, que operam com óleo leve. Com isso, a Petrobras precisa exportar seu petróleo e importar o de outro tipo, gastando em dólar.
O problema é que, durante os últimos anos, o preço do petróleo superou os US$ 100 por barril. A Petrobras pagava a conta, mas não repassava o aumento de preços para os combustíveis no País, a fim de não pressionar a inflação. Esse represamento de preços levou a companhia a perder caixa e elevar seu nível de endividamento. Muito criticada pelos investidores, a medida também pesou na perda de valor de mercado.
Espinhos
Tocando o maior plano de investimentos do Brasil, com desembolsos estimados de US$ 220,6 bilhões entre 2014 e 2018, a companhia convive com o caixa pressionado. Recorreu a captações no mercado e a endividamento bancário. Embora Graça tenha determinado a revisão de projetos não prioritários, havia dúvidas sobre a capacidade de a companhia tocar os planos sem romper com o limite de endividamento imposto pelo conselho de administração e recomendado pelos investidores.
Graça sempre sinalizou que era necessário rever a política de preços da Petrobras, embora evitasse se comprometer com prazos, para não desagradar Dilma e a equipe econômica. Em sua última apresentação a investidores e jornalistas, na divulgação dos números não auditados do terceiro trimestre, Graça declarou que reduziria as atividades da companhia “ao mínimo necessário”. Dado o impacto dos investimentos da Petrobras sobre a economia brasileira, e a perspectiva de retração do País em 2015, a afirmação doeu no ouvido de Dilma.
Dilma resistiu o quanto pôde para demitir a amiga. Além da relação de lealdade entre as duas, existia um cálculo político. Afastar Graça significaria levar a crise direto para a mesa da presidente. Sua situação, contudo, tornou-se insustentável e sua troca passou a ser defendida, inclusive, pelo núcleo duro do governo, para simbolizar uma resposta à crise. Em reunião nesta terça-feira 3, no Palácio do Planalto, Graça acertou a saída de toda a diretoria até março. Sua última missão será apresentar o balanço auditado de 2014, com uma estimativa de quanto a corrupção pesou nos ativos da empresa. À parte esse dado, que mostrará a capacidade de transparência e o tamanho do esquema, a apresentação do balanço é vital para que investidores internacionais não antecipem o vencimento de créditos que possuem junto à empresa – o que estrangularia ainda mais seu caixa. A passagem de Graça pela presidência da Petrobras será espinhosa até o fim.
Ao substituir José Sérgio Gabrielli no comando da empresa, Graça foi vista como sua salvadora, mas foi varrida pela Operação Lava Jato
Graça sempre sinalizou que era necessário rever a política de preços da Petrobras, embora evitasse se comprometer com prazos, para não desagradar Dilma e a equipe econômica. Em sua última apresentação a investidores e jornalistas, na divulgação dos números não auditados do terceiro trimestre, Graça declarou que reduziria as atividades da companhia “ao mínimo necessário”. Dado o impacto dos investimentos da Petrobras sobre a economia brasileira, e a perspectiva de retração do País em 2015, a afirmação doeu no ouvido de Dilma.
Dilma resistiu o quanto pôde para demitir a amiga. Além da relação de lealdade entre as duas, existia um cálculo político. Afastar Graça significaria levar a crise direto para a mesa da presidente. Sua situação, contudo, tornou-se insustentável e sua troca passou a ser defendida, inclusive, pelo núcleo duro do governo, para simbolizar uma resposta à crise. Em reunião nesta terça-feira 3, no Palácio do Planalto, Graça acertou a saída de toda a diretoria até março. Sua última missão será apresentar o balanço auditado de 2014, com uma estimativa de quanto a corrupção pesou nos ativos da empresa. À parte esse dado, que mostrará a capacidade de transparência e o tamanho do esquema, a apresentação do balanço é vital para que investidores internacionais não antecipem o vencimento de créditos que possuem junto à empresa – o que estrangularia ainda mais seu caixa. A passagem de Graça pela presidência da Petrobras será espinhosa até o fim.

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