
Se você já se assustou com o aumento de quase R$ 0,40 no preço da gasolina, em prática desde o último domingo (1º), quando entrou em vigor o novo pacote de reajuste sobre a gasolina, etanol e diesel, prepare-se para o pior. De acordo com o Sindicato do Comércio de Combustíveis da Bahia (Sindicombustíveis-BA), a previsão é que, ao longo de 2015, outros três reajustes sejam implementados no preço do combustível.
Antes, quando o valor médio em Salvador era cerca de R$ 3,15 e custava aproximadamente R$ 160 para completar o tanque de um carro popular de 51 litros. Já com o primeiro aumento, o motorista passa a pagar R$ 188 pela mesma quantidade - uma diferença de R$ 22. A mudança fez com que a nutricionista Bruna Reis, de 28 anos, trocasse de endereço. "Eu morava em Vilas do Atlântico, e trabalho na Federação e na clínica da Pituba. Por isso, me mudei para a Pituba e, mesmo com as novas despesas, ainda consigo economizar por não gastar tanto com gasolina", conta a nutricionista.
Os custos também têm sido um problema na vida do estudante Aislã Silva. "Moro em Lauro de Freitas e trabalho na Av. ACM. Gasto, de ida e volta, 60 km por dia e, até o semestre passado, estava gastava R$ 500 a R$ 600 por mês. Agora, piora ainda mais", conta. Por isso, o estudante planeja mudar para o Gás Natural Veicular (GNV). "É um combustível mais barato, e eu tô percebendo que tem muita gente aderindo", conta.
Em 1º de abril, gasolina sofrerá novo aumento
Se a atual situação já tem feito os motoristas deixarem os carros em casa, segundo o Sindicombustíveis, a situação tende a piorar com os próximos aumentos implementados. "Em 2015, vai ter um no dia 1º de abril, outro se houver a mistura diferenciada da gasolina com o etanol e é possível que tenha outro no dia 1º de maio, quando entrar a [taxa] fixa definitivamente. Ou seja, a gente está numa situação complicada", adianta.
Questionado sobre qual será o preço do combustível no futuro, Alves garante que o valor ainda é incerto. "Não temos previsão. Até porque são decisões do governo e nós não somos ouvidos nessas decisões. O que foi aumentado agora basicamente foi carga tributária. Teve uma movimentação de preço em função da variação de produto, mas o que aumentou efetivamente foi carga tributária", diz. Ainda segundo o Sindicombustíveis, 2015 mal começou e já é recordista na categoria aumento de combustível. "Em 2013, só teve um aumento, em novembro. Em 2014, houve dois aumentos", lembra.
Revolta da população
Os donos de postos de gasolina da Bahia não perderam tempo e aplicaram o aumento logo após o reajuste entrar em vigor. Já na manhã de domingo, os postos já comercializavam o produto mais caro. No posto BR da Av. Pinto de Aguiar, por exemplo, o valor cobrado pelo litro da gasolina passou a ser R$ 3,69, o mesmo praticado no posto BR da Av. Santos Dumont, em Lauro de Freitas.
De acordo com o presidente do Sindicombustíveis, José Augusto Costa, o aumento surpreendeu até os donos de postos de gasolina e foi recebido com revolta pela população, o que fez com que o governo segurasse o preço. "O governo federal segurou a mistura da gasolina com o etanol. Isso diminuirá o preço da mercadoria para os donos de postos. E bem verdade que essa definição não foi definitiva, mas pelo menos diminuirá o impacto para o consumidor", diz.
Preços muito diferentes
Apesar da proximidade de Salvador com a refinaria Landulpho Alves, que fica no município de Madre de Deus, a 58 km de Salvador, o preço do combustível comercializado na capital é muito superior ao vendido em cidades do interior que ficam bem mais distantes do centro de produção. O presidente do Sindicombustíveis se defende e afirma que a culpa é da Petrobras. "A refinaria fornece para o Brasil inteiro, para todos os estados do Nordeste. E ela emprega em todos os estados do Nordeste mais barato que aqui e lá em Madre de Deus. Isso aí é uma decisão da Petrobras. Não tem como você explicar o porquê de ser mais caro aqui do que lá no Ceará, no Maranhão. Nós não temos como explicar isso", explica.
Aliado ao preço que o combustível é comercializado, a carga tributária referente a cada local também interfere no preço final. "O dono do posto tem que se basear pelo valor que ele compra e pela carga tributária que ele tem. O dono do posto se guia pela concorrência, pela variação de mercado, mas, basicamente, tem como base por quanto ele compra da distribuidora", conta.
Medida vai render R$ 20,6 bilhões aos cofres públicos
De acordo com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o aumento do preço da gasolina e de outros tributos tem como principal função reforçar a arrecadação do governo federal. A estimativa é a de que as medidas vão render aos cofres nacionais cerca de R$ 20,6 bilhões. Prevendo a revolta da população, logo após anunciar as mudanças, em meados de janeiro, Levy aproveitou para se eximir da responsabilidade sobre o valor da gasolina. "O preço vai depender da evolução do mercado e da política de preços da Petrobras. Essa decisão não é do Ministério da Fazenda, mas da empresa", disse.
Aumento causará efeito cascata
Como efeito cascata, as entidades representativas do comércio já afirmam que o aumento do combustível deve afetar o preço final repassado para o consumidor. Com o reajuste no preço do diesel - combustível utilizado em grande parte dos caminhões que cortam o país realizando o transporte de alimentos e mercadorias -, consequentemente, os empresários irão repassar o valor para o consumidor.
De acordo com a Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística, ainda não é possível calcular o valor do reajuste nos serviços de frete, mas é certo que o preço será reajustado. A Metrópole entrou em contato com o Sindicato dos Comerciários de Salvador para saber se o setor já começou a repassar o reajuste, mas até o fechamento dessa edição não tivemos resposta.
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